Filha de uma amazonense e um
nordestino. Seu pai não teve amor de pai e mãe. Quando ainda era criança, eles
foram embora para outro plano. O casal, sra Mercedes Nascimento dos Santos e David
Lins dos Santos tiveram onze filhos. Ele seringueiro, subindo e descendo os
barrancos da cidade de Xapuri/AC com os sacos de castanhas e seringa nas costas. E ela em casa, cuidando dos filhos e da casa. E por muitos anos essa foi a vida deles. Já na capital, ela vai trabalhar no restaurante do Oscar, de lá, leva a sobra da
comida para alimentar a prole que já crescia na capital acreana. A criança
Djanira sempre cuidou dos demais irmãos mais novos, juntamente com os mais velhos.
Muito nova, d. Djanira se casa
com o sr. Valdir. Um conhecido desde criança do seringal que moravam. Na
juventude se reencontram, começam a namorar e depois se casam. O tempo passa, d.
Djanira engravida do primeiro filho e por conta de uma brincadeira com seu
marido acaba perdendo a criança num aborto espontâneo. A frustração bate a jovem
menina, o jovem casal, mas a vida segue.
Depois d. Djanira engravida pela
segunda vez, e por conta de um susto no seringal que moravam, ela tem seu
segundo aborto espontâneo. Novamente a frustração toma conta do jovem casal.
O ano é 1981. Parece que dessa
vez vai. A família ainda não tem filho, e os avôs paternos e maternos não têm
um neto, querem aumentar a família, mas depois de duas frustrações a coisa fica
mais difícil. E muitas interrogações tomam conta da cabeça do jovem casal. Mas
não deixam de acreditar.
E depois de uma gravidez muito conturbada,
delicada, arriscada, devido aos dois abortos espontâneos, e das condições
emocionais do casal, em fim, a jovem grávida foi levada do seringal para a
cidade para ganhar neném.
E no dia 11 de outubro de 1982
nasce o primeiro Neto da família, o xodó dos pais e avós, ao menos esse não repetiu
a história dos anteriores, venceu e nasceu. Era o chamego dos tios e tias, o primogênito
da família, que depois se tornou único filho do casal. De volta ao seringal
depois do nascimento, e lá passa seus primeiros anos de vida.
Esse é um breve relato da imensa
história da minha família que ouvi, ora da boca dos meus avós, ora da boca da
minha mãe e reconto aqui, nesse momento, parte dela. Hoje com vários netos e
netas, primos e primas, uma irmã que veio para mudar a vida da minha mãe e a
minha, sempre desejei uma irmã, uma caçula para cuidar dela e amá-la, a família
não para de crescer. Veio até Felipe, bisneto, neto, minha herança, que já é um
adolescente.
Agradeço muito a Deus pela
família que ele me deu, que ele escolheu para eu vir ao mundo. Venci a morte já
desde o ventre, e os muitos obstáculos que a vida nos impôs durante esses anos,
minha mãe anulou sua vida para me dá uma “vara” de pescar, e eu aproveitei a
oportunidade e não decepcionei, ao menos acho que não. E depois aprendi a “pescar”
e a “pegar o peixe”. E esse aprendizado se dará por toda a vida, não se
esgotará. Esse legado minha mãe me deixou e vou levar até os últimos dias de
vida.
Estudava e trabalhava ao mesmo
tempo, inclusive nos finais de semana, sempre com a finalidade de me
proporcionar o melhor conforto, a melhor educação e o melhor alimento. Passou em
primeiro lugar em um concurso público para o Tribunal de Justiça do Acre onde
só tinha uma vaga em disputa. E hoje já possui mais de três décadas de serviços
prestados ao poder judiciário acreano.
Tenho muito orgulho da minha
baixinha gordinha. E lembro-me muito bem dos dias e das horas sentadas num
banquinho fazendo unha, fazendo almofadas para vender, fazendo refresco para eu
vender nos campos de peladas, e tantas outras coisas que inventava para
aumentar a renda familiar.
Sempre foi minha referência
paterna e materna, ao mesmo tempo. Uma Super-heroína que devo a minha vida, que
jamais vou pagar tudo o que ela fez e faz por mim até hoje. E tudo isso só foi
possível graças à dona Mercedes e ao Seu David, ambos in memória, mas que deixaram os seus legados para seus filhos, netos
e bisnetos.
Não há nada mais importante nessa
vida, para minha pessoa, do que minha família. Um bem precioso que Deus me deu
e que não tem preço. E se hoje faço 31 anos de vida está sendo graças a essas
pessoas importantes na minha vida.
Amo-Te Mamãe, meu maior presente
é você!
Charles Brasil - Tomara homenageá-la,
mamãe, por longos anos ainda.