Espírito Democrático

Resolvi criar esse espaço para poder divulgar minha opinião como representante sindical aqui no Comando Nacional de Greve da Fasubra Sindical - 2011. Aproveitando o acesso mundial da rede de computadores que facilitará e democratizará à informação detalharei cada passo meu, cada trabalho do CNG e disponibilizarei todas as novidades em primeira mão para os trabalhadores da Universidade Federal do Acre.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

DO SERINGAL A CIDADE - 31 ANOS DE VIDA



Filha de uma amazonense e um nordestino. Seu pai não teve amor de pai e mãe. Quando ainda era criança, eles foram embora para outro plano. O casal, sra Mercedes Nascimento dos Santos e David Lins dos Santos tiveram onze filhos. Ele seringueiro, subindo e descendo os barrancos da cidade de Xapuri/AC com os sacos de castanhas e seringa nas costas. E ela em casa, cuidando dos filhos e da casa. E por muitos anos essa foi a vida deles. Já na capital, ela vai trabalhar no restaurante do Oscar, de lá, leva a sobra da comida para alimentar a prole que já crescia na capital acreana. A criança Djanira sempre cuidou dos demais irmãos mais novos, juntamente com os mais velhos.

Muito nova, d. Djanira se casa com o sr. Valdir. Um conhecido desde criança do seringal que moravam. Na juventude se reencontram, começam a namorar e depois se casam. O tempo passa, d. Djanira engravida do primeiro filho e por conta de uma brincadeira com seu marido acaba perdendo a criança num aborto espontâneo. A frustração bate a jovem menina, o jovem casal, mas a vida segue.

Depois d. Djanira engravida pela segunda vez, e por conta de um susto no seringal que moravam, ela tem seu segundo aborto espontâneo. Novamente a frustração toma conta do jovem casal.

O ano é 1981. Parece que dessa vez vai. A família ainda não tem filho, e os avôs paternos e maternos não têm um neto, querem aumentar a família, mas depois de duas frustrações a coisa fica mais difícil. E muitas interrogações tomam conta da cabeça do jovem casal. Mas não deixam de acreditar.

E depois de uma gravidez muito conturbada, delicada, arriscada, devido aos dois abortos espontâneos, e das condições emocionais do casal, em fim, a jovem grávida foi levada do seringal para a cidade para ganhar neném.

E no dia 11 de outubro de 1982 nasce o primeiro Neto da família, o xodó dos pais e avós, ao menos esse não repetiu a história dos anteriores, venceu e nasceu. Era o chamego dos tios e tias, o primogênito da família, que depois se tornou único filho do casal. De volta ao seringal depois do nascimento, e lá passa seus primeiros anos de vida.

Esse é um breve relato da imensa história da minha família que ouvi, ora da boca dos meus avós, ora da boca da minha mãe e reconto aqui, nesse momento, parte dela. Hoje com vários netos e netas, primos e primas, uma irmã que veio para mudar a vida da minha mãe e a minha, sempre desejei uma irmã, uma caçula para cuidar dela e amá-la, a família não para de crescer. Veio até Felipe, bisneto, neto, minha herança, que já é um adolescente.

Agradeço muito a Deus pela família que ele me deu, que ele escolheu para eu vir ao mundo. Venci a morte já desde o ventre, e os muitos obstáculos que a vida nos impôs durante esses anos, minha mãe anulou sua vida para me dá uma “vara” de pescar, e eu aproveitei a oportunidade e não decepcionei, ao menos acho que não. E depois aprendi a “pescar” e a “pegar o peixe”. E esse aprendizado se dará por toda a vida, não se esgotará. Esse legado minha mãe me deixou e vou levar até os últimos dias de vida.

Estudava e trabalhava ao mesmo tempo, inclusive nos finais de semana, sempre com a finalidade de me proporcionar o melhor conforto, a melhor educação e o melhor alimento. Passou em primeiro lugar em um concurso público para o Tribunal de Justiça do Acre onde só tinha uma vaga em disputa. E hoje já possui mais de três décadas de serviços prestados ao poder judiciário acreano.

Tenho muito orgulho da minha baixinha gordinha. E lembro-me muito bem dos dias e das horas sentadas num banquinho fazendo unha, fazendo almofadas para vender, fazendo refresco para eu vender nos campos de peladas, e tantas outras coisas que inventava para aumentar a renda familiar.

Sempre foi minha referência paterna e materna, ao mesmo tempo. Uma Super-heroína que devo a minha vida, que jamais vou pagar tudo o que ela fez e faz por mim até hoje. E tudo isso só foi possível graças à dona Mercedes e ao Seu David, ambos in memória, mas que deixaram os seus legados para seus filhos, netos e bisnetos.

Não há nada mais importante nessa vida, para minha pessoa, do que minha família. Um bem precioso que Deus me deu e que não tem preço. E se hoje faço 31 anos de vida está sendo graças a essas pessoas importantes na minha vida.

Amo-Te Mamãe, meu maior presente é você!
                                                                                
Charles Brasil - Tomara homenageá-la, mamãe, por longos anos ainda.

Brasília, 11 de outubro de 2013.